entre tantos de mim
sou eu o mesmo
sem ti
nem mi
ainda quando não estou
abraço todos os sóis.
frios
nossos braços
procuram por arco-íris
nos lentos passos que circulam esse andar
nosso andor
nessa procissão.
Blog destinado à publicação de textos que eu escrevo. Sem qualquer pretensão poética, os fragmentos aqui apresentados são reflexos de momentos simples, tristes, felizes e/ou solitários. São só meus os sentimentos aqui expostos. E seus também.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
pálido
perdido
sem voz
nem vez
só
na minha solidão
escuto o meu tempo que se vai
dizendo adeus
sem acenar a mão
se é noite ou dia
o espelho já não tem certeza:
diz apenas o que sente
francamente
sem reluzir o que espera chegar
sai de cena até eu não mais enxergar
os olhos que me veem
diante da lâmpada pálida, desflorescente.
sem voz
nem vez
só
na minha solidão
escuto o meu tempo que se vai
dizendo adeus
sem acenar a mão
se é noite ou dia
o espelho já não tem certeza:
diz apenas o que sente
francamente
sem reluzir o que espera chegar
sai de cena até eu não mais enxergar
os olhos que me veem
diante da lâmpada pálida, desflorescente.
tanto tudo
tanto tempo em tão pouco tempo
tanto espaço em tão pouco vento
tanto engano para quem fica
tanto tudo para quem respira
com o tanto de tudo
tanto livro perdido na estante
tanto discurso esquecido na mente
tanto jeito tem o peito de quem mente
tanto medo tem quem menos se sente
com a falta de tudo
tanto espaço em tão pouco vento
tanto engano para quem fica
tanto tudo para quem respira
com o tanto de tudo
tanto livro perdido na estante
tanto discurso esquecido na mente
tanto jeito tem o peito de quem mente
tanto medo tem quem menos se sente
com a falta de tudo
terça-feira, 3 de novembro de 2015
perto do fim
está tudo dito assim:
sem ponto
vírgula
espaços em branco
ou parênteses.
pare com o sorriso entre os dentes
leia o meu olhar da maneira mais simples:
didática
dialética
como espumas que repousam à beira da praia
e lavam os pés cansados
digo tudo o que não for preciso:
o necessário
está ao alcance dos seus olhos.
tateie todo o vazio que há
entre sua fala e o seu pensamento:
do resto,
talvez não seja mais preciso
dividirmos o mesmo ar.
sem ponto
vírgula
espaços em branco
ou parênteses.
pare com o sorriso entre os dentes
leia o meu olhar da maneira mais simples:
didática
dialética
como espumas que repousam à beira da praia
e lavam os pés cansados
digo tudo o que não for preciso:
o necessário
está ao alcance dos seus olhos.
tateie todo o vazio que há
entre sua fala e o seu pensamento:
do resto,
talvez não seja mais preciso
dividirmos o mesmo ar.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
reinado
começo a me desfazer
de xícaras
talheres
e panelas
filmes já vistos
livros já lidos
e de garrafas de vinhos.
passava-me pela cabeça
que a casa estaria sempre cheia.
a solidão reina.
de xícaras
talheres
e panelas
filmes já vistos
livros já lidos
e de garrafas de vinhos.
passava-me pela cabeça
que a casa estaria sempre cheia.
a solidão reina.
desgostar
desgostar
é tão estranho
quanto se encantar.
quanto cantar sem música
quanto correr com medo da chuva
quanto não lembrar como era antes de ontem.
desgostar talvez não seja o oposto de gostar
mas outra forma de dizer:
você não habita mais em mim.
é tão estranho
quanto se encantar.
quanto cantar sem música
quanto correr com medo da chuva
quanto não lembrar como era antes de ontem.
desgostar talvez não seja o oposto de gostar
mas outra forma de dizer:
você não habita mais em mim.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
você sem canto
há espaço demais
entre o sofá e a cortina
mas sempre cabe você
na ponta da cega lâmina
na lã da fria lamparina
que clareia a flor da minha varanda
não há um canto sequer
que acolha seus pés
mas sempre permito que você
brinque nas ondas que não me desaminam
na folha em branco sem tinta por cima
no chão que calça seu molde
terraço por onde só seu jeito anda
com canto
com encanto
com melodia e com fantasia
seu canto
nosso canto
ainda que sem canto e sem lugar por perto
há sempre um peito aqui
esperando outro peito vir
colorir esse lugar com afeto
entre o sofá e a cortina
mas sempre cabe você
na ponta da cega lâmina
na lã da fria lamparina
que clareia a flor da minha varanda
não há um canto sequer
que acolha seus pés
mas sempre permito que você
brinque nas ondas que não me desaminam
na folha em branco sem tinta por cima
no chão que calça seu molde
terraço por onde só seu jeito anda
com canto
com encanto
com melodia e com fantasia
seu canto
nosso canto
ainda que sem canto e sem lugar por perto
há sempre um peito aqui
esperando outro peito vir
colorir esse lugar com afeto
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
um café de amanhã
é de laço de fita vermelha
o enfeite com que te enfeitas
desde o sofá até o corredor
desde a toalha da mesa da varanda até a estação do metrô
desde o fio que a navalha não corta até o braço de arpoador
desde o lenço bordado de amor
desde o leito de visitas até o fundo do poço
é com gosto de chá requentado de ontem
que beijo o seu lábio de cima e o inferior
desde os pelos dos pés que são de outra cor até o cóccix
desde o cio que vem antes do motor
desde o que vivencio e todo seu esplendor
desde a velha vitrola até seu som de outra cor
desde o litro de água que bebo, fingindo licor
e de manhã antes de nascer um sol
sei de tudo porque vivo onde estou
não jogo no lixo o que me arde, a minha fé
nem mesmo enlouqueço esperando o seu voo
mas não me agrada pensar um café de amanhã
se nosso tempo nessa foto já passou.
o enfeite com que te enfeitas
desde o sofá até o corredor
desde a toalha da mesa da varanda até a estação do metrô
desde o fio que a navalha não corta até o braço de arpoador
desde o lenço bordado de amor
desde o leito de visitas até o fundo do poço
é com gosto de chá requentado de ontem
que beijo o seu lábio de cima e o inferior
desde os pelos dos pés que são de outra cor até o cóccix
desde o cio que vem antes do motor
desde o que vivencio e todo seu esplendor
desde a velha vitrola até seu som de outra cor
desde o litro de água que bebo, fingindo licor
e de manhã antes de nascer um sol
sei de tudo porque vivo onde estou
não jogo no lixo o que me arde, a minha fé
nem mesmo enlouqueço esperando o seu voo
mas não me agrada pensar um café de amanhã
se nosso tempo nessa foto já passou.
maria das lágrimas
em que canto
você canta a sua dor?
em que rio de água límpida
você lava o seu ardor?
em que dia que principia
você nunca se encantou
com uma rosa vermelha azul
preta da sua cor?
em que brasa
você diz que não se perde?
em que asa
você nunca se repete?
em que casa
aberta
você diz que não compete
com o cheiro do jasmim
que nunca brotou?
manhã
de sal e andor
caminho
que nunca ando só
amanhã
maria das lágrimas
carinho lhe dou
da nuca ao amor em pó.
você canta a sua dor?
em que rio de água límpida
você lava o seu ardor?
em que dia que principia
você nunca se encantou
com uma rosa vermelha azul
preta da sua cor?
em que brasa
você diz que não se perde?
em que asa
você nunca se repete?
em que casa
aberta
você diz que não compete
com o cheiro do jasmim
que nunca brotou?
manhã
de sal e andor
caminho
que nunca ando só
amanhã
maria das lágrimas
carinho lhe dou
da nuca ao amor em pó.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
tudo de leve
porta a porta
saída de emergência
entre a primeira e a última
o grito não se aguenta e canta
espanta a poesia de ontem
demora na dor
tenta decorar a linha do equador
põe-se antes de qualquer linha
desfaz a sutil companhia
enquanto suspeita da falta de amor
passa por todos os lados
brechas
becos
corredores
quando é dia e o pincel se perde
a tinta morre de solidão
e a rua escura não precisa mais de postes
porque agora é tempo de tanto faz
o que tiver que ser não será jamais
e talvez nem disso ele mais goste
saída de emergência
entre a primeira e a última
o grito não se aguenta e canta
espanta a poesia de ontem
demora na dor
tenta decorar a linha do equador
põe-se antes de qualquer linha
desfaz a sutil companhia
enquanto suspeita da falta de amor
passa por todos os lados
brechas
becos
corredores
quando é dia e o pincel se perde
a tinta morre de solidão
e a rua escura não precisa mais de postes
porque agora é tempo de tanto faz
o que tiver que ser não será jamais
e talvez nem disso ele mais goste
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
sem mi
meu amor deixou seu lar.
passarinhou
visitou outros ninhos
desistiu de cantar:
e, para completar,
revolveu minha pele
e a memória dos nossos lençóis.
meu amor me deixou assim, sei lá.
persistiu em se afastar
refez outros caminhos, recolheu perfumes
e para lá ficou, a parar raios:
resolveu abrandar
tempestades em dias sem milhões de sóis.
meu amor deixou-se em lá.
construiu castelos e pintou poemas
recitou luas em plena luz do dia
dançou valsa em ribeira, sem mar ou hino de
rouxinóis:
para a minha vida-canção
descolorida e desafinada
fez promessa de um dó deixar.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
de sol à só
quarta de sol
de só ou sal
saudade.
setembro
sé
praça
elevador.
sem
rio
ou fios
lagrimar.
de só ou sal
saudade.
setembro
sé
praça
elevador.
sem
rio
ou fios
lagrimar.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
eis-me aqui
e as vestes
com que tu me vestes
não servem
para esconder
de onde viestes
vistes não
o barulho que fez o vulcão ao beijar o chão?
eis-me aqui
nu por inteiro
sem fantasia
esperando vestir-te
sem prosa nem poesia
apenas com o que possas carregar
sem preço
nem peso: leve
como a luz do dia que ainda não principia.
com que tu me vestes
não servem
para esconder
de onde viestes
vistes não
o barulho que fez o vulcão ao beijar o chão?
eis-me aqui
nu por inteiro
sem fantasia
esperando vestir-te
sem prosa nem poesia
apenas com o que possas carregar
sem preço
nem peso: leve
como a luz do dia que ainda não principia.
ilha das flores
esse gosto de mar
que se perde em nós
que se perde em meio a nós
que pede por nós, enfim
seria só
um gosto de mar
se não fosse o que há
por entre os nós
que nos prendem aqui
flores
eu vejo os seus olhos partirem
quebrando muros, derrubando estações
e as cores que ficam em mim
sem trens
automóveis ou barcos à vela
minha lágrima é doce,
é saudade
é dela
a noite que não me deixa dormir.
sem re-verso
a pé
de caminhão
nos braços de um sonho
nas mãos das ondas em contramão
a fé
que não pede café
para poder ficar acordada até
de manhã não
desmaia
no sofá
pois sabe
que seja água de rio
de cacimba
ou de maré
morrer afogado
é
no fundo
no fundo
no fundo
o fundo
não sentir
qualquer que seja o pé
e antes de ser pássaro e conseguir nadar
o mundo todo reflete em cada olhar
o que já foi
o que não virá a ser
e o que já é:
você
indo
embora
sem tempo
para dar
marcha a ré.
de caminhão
nos braços de um sonho
nas mãos das ondas em contramão
a fé
que não pede café
para poder ficar acordada até
de manhã não
desmaia
no sofá
pois sabe
que seja água de rio
de cacimba
ou de maré
morrer afogado
é
no fundo
no fundo
no fundo
o fundo
não sentir
qualquer que seja o pé
e antes de ser pássaro e conseguir nadar
o mundo todo reflete em cada olhar
o que já foi
o que não virá a ser
e o que já é:
você
indo
embora
sem tempo
para dar
marcha a ré.
domingo, 23 de agosto de 2015
desconhecida companheira
eu quero morrer dormindo
sem sentir dor alguma
acordar depois sorrindo
na rua, tomando banho de chuva
chegue devagar
estranha amiga
desconhecida companheira
descanse lá fora
ao calor da fogueira
e só pense em entrar
quando essa tempestade der um tempo.
sem sentir dor alguma
acordar depois sorrindo
na rua, tomando banho de chuva
chegue devagar
estranha amiga
desconhecida companheira
descanse lá fora
ao calor da fogueira
e só pense em entrar
quando essa tempestade der um tempo.
quinta-feira, 30 de julho de 2015
via já
são duas vias
igualmente distintas e semelhantes
tudo limpo e novo
tudo sujo ou quase sujo
e novo ou quase novo
de novo.
não há água que limpe uma alma
com tanta força
como quando se faz uma boa viagem
são duas vias
vai e volta
sobe e desce
arruma e desarruma
para arrumar e desarrumar novamente
e novamente
e novamente
e eis que surge a possibilidade
de uma nova mente.
igualmente distintas e semelhantes
tudo limpo e novo
tudo sujo ou quase sujo
e novo ou quase novo
de novo.
não há água que limpe uma alma
com tanta força
como quando se faz uma boa viagem
são duas vias
vai e volta
sobe e desce
arruma e desarruma
para arrumar e desarrumar novamente
e novamente
e novamente
e eis que surge a possibilidade
de uma nova mente.
domingo, 12 de julho de 2015
elas flores
clarices e as açucenas
cecílias e as adelfas
cássias e todas as dálias
graças e as alfazemas
marias e as lavandas
céus e as beladonas
hildas e as camélias
lygias e as begônias
anas e todas as gencianas
são elas:
todos os cactos
cravos
crisântemos
campânulas
gerânios
todas as glicínias
e todos os ipês.
amores-perfeitos.
cecílias e as adelfas
cássias e todas as dálias
graças e as alfazemas
marias e as lavandas
céus e as beladonas
hildas e as camélias
lygias e as begônias
anas e todas as gencianas
são elas:
todos os cactos
cravos
crisântemos
campânulas
gerânios
todas as glicínias
e todos os ipês.
amores-perfeitos.
sua dor
triste
a folha em branco
procurou pela tinta:
condição para o sorriso alheio
dona prima
ainda que cega
tateou corpos incandescentes
de dentro para fora
de baixo para cima.
qual é a cor exata
da sua dor
na minha rima?
a folha em branco
procurou pela tinta:
condição para o sorriso alheio
dona prima
ainda que cega
tateou corpos incandescentes
de dentro para fora
de baixo para cima.
qual é a cor exata
da sua dor
na minha rima?
de fora
a solidão bateu à porta
do outro lado não havia ninguém
perdeu-se, então
entre a lembrança dos passos de outrem
e o que não encontrou
do lado de fora.
do outro lado não havia ninguém
perdeu-se, então
entre a lembrança dos passos de outrem
e o que não encontrou
do lado de fora.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
in-direta
então, você se encosta de mansinho
feito bichano querendo acalanto
após tragar meu tubarão
enquanto o desgraçado dormia infeliz no minúsculo aquário?
não.
a folha em branco permanecerá imaculada
ainda que seja à espera de nada
às vezes, ampara mais atar-se às fotografias antigas
do que viver seu hoje de cartas marcadas.
seu riso raso e fácil
enfeitiça
dobra minha dor
paralisa meu lado esquerdo
e eu fico
do tamanho do que não sou
flor,
o mandacaru secou
pois carinho não chove há tempos
e o meu furor é do tamanho do seu cinismo
e tem a fome desse momento
e nem vacina cura esse vulcão, não.
e não venha, pois eu não dou mais
a receita que entrega o ponto
em que meu corpo se entrega tanto
que deixo de ser eu
para ser o que quer que seja
e alimentar com a minha tristeza e o meu prato
o seu cofre de tesouros alheios
passe o tempo que for
talvez hoje
quem sabe em época vindoura
pode até ser que eu mude
e passe a ser menos rude
mas meu lençol, seus pés, não mais esquentará
porque o peito é meu
e o leito sofreu de forma tamanha com a tempestade de outrora
do jeito que chega a dar pena
quando se erra ao amar
porque o seu outono não mora mais aqui
e a impressão que era sua, tão bela e quase perfeita
confesso: já descolori
e não me aproximo mais, de forma alguma
daquilo que não tenha gosto e nem pureza de mar.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
realidade
não me ligue
não te ligo
não te ligo
nem te digo nada mais.
não nos liguemos.
finjamos.
brinquemos de sentir saudade
e mostremos maldade às duas da manhã
e mostremos maldade às duas da manhã
porque
depois
é preciso esquecer
que nos vimos
que nos sentimos
e que estávamos ligados.
nu na chuva
nu
tal qual um livro em branco
e ainda assim você me lê
sem urgência de lamparina
sem esperar pela lua na esquina
vejo você me colorir
página por página
e dar gestos às minhas palavras
o dia todo
resulta em poesia
quando escuto você dizer
que gosta da chuva.
tal qual um livro em branco
e ainda assim você me lê
sem urgência de lamparina
sem esperar pela lua na esquina
vejo você me colorir
página por página
e dar gestos às minhas palavras
o dia todo
resulta em poesia
quando escuto você dizer
que gosta da chuva.
outras cores
sejam meus
seus olhos negros
porque ainda há tempo para ver belezas nossas
em todas as outras cores.
seus olhos negros
porque ainda há tempo para ver belezas nossas
em todas as outras cores.
abrigo
todo um porto é meu peito
aeroporto
uma rede de balanço
que se encanta
com o som vermelho dos seus passos.
asas suas soltas pelo céu
ou velas dançando nos mares
são sempre bem-vindas
e encontrarão
aqui
em mim
portais
cais
pistas
e varandas
cantando sua chegada.
aeroporto
uma rede de balanço
que se encanta
com o som vermelho dos seus passos.
asas suas soltas pelo céu
ou velas dançando nos mares
são sempre bem-vindas
e encontrarão
aqui
em mim
portais
cais
pistas
e varandas
cantando sua chegada.
um só
e como velas
que morrem solidárias
lado a lado
eu lhe agarro
e lhe tiro para dançar
no espaço-silêncio
enquanto o escuro pinta toda a sala
é lá que estou com você
junto
muito junto
juntinho
praticamente
um só.
que morrem solidárias
lado a lado
eu lhe agarro
e lhe tiro para dançar
no espaço-silêncio
enquanto o escuro pinta toda a sala
é lá que estou com você
junto
muito junto
juntinho
praticamente
um só.
chuva sem guarda
comprei um novo guarda-chuva:
oito reais e noventa.
até o próximo inverno ele aguenta
mesmo guardando apenas a minha cabeça
oito reais e noventa.
até o próximo inverno ele aguenta
mesmo guardando apenas a minha cabeça
porque pernas, pés, sapatos e meias
ficam sem guarda alguma
e à espera de qualquer coisa que os guarde,
ficam sem guarda alguma
e à espera de qualquer coisa que os guarde,
de fato.
sob seus pés
a chuva se sentindo acarinhada
o rio beijado
e o mar abraçado
as ondas
mais calmas
agora cantam
e as estrelas do mar
dançam
como se o céu estivesse ali
bem pertinho
sob seus pés.
o rio beijado
e o mar abraçado
as ondas
mais calmas
agora cantam
e as estrelas do mar
dançam
como se o céu estivesse ali
bem pertinho
sob seus pés.
isso
se tão simples fosse
não se recorreria a flores
a noites de lua
aos sentimentos das pedras
nem dos rios.
não se recorreria a flores
a noites de lua
aos sentimentos das pedras
nem dos rios.
eu apenas sinto
fico em silêncio
e deixo que as palavras cantem
o que quer que elas pensem
e esperem que eu sinta
fico em silêncio
e deixo que as palavras cantem
o que quer que elas pensem
e esperem que eu sinta
porque é isso tudo mesmo
que eu sinto.
que eu sinto.
saudade
saudade só presta mesmo
quando é apenas de uma pessoa
e por alguns minutos somente
quando passa desse tempo
e aumenta o número de gente
presta não
é desespero de mãe que procura filho desaparecido
é aperreio
feito
à noite
sentir dor de dente.
quando é apenas de uma pessoa
e por alguns minutos somente
quando passa desse tempo
e aumenta o número de gente
presta não
é desespero de mãe que procura filho desaparecido
é aperreio
feito
à noite
sentir dor de dente.
ação
a qualquer eu hora me mudo.
deixo as camisas,
cortinas
e bermudas
todas mudas
e as mudas que forem úteis
carrego comigo na mudança.
faço tudo parar em frente ao seu mundo.
se quiser ir comigo,
há espaço na mala
e em toda a minha pele.
deixo as camisas,
cortinas
e bermudas
todas mudas
e as mudas que forem úteis
carrego comigo na mudança.
faço tudo parar em frente ao seu mundo.
se quiser ir comigo,
há espaço na mala
e em toda a minha pele.
vestida de tristeza
sem espaço entre a mobília
cacos
e corpos,
reteve-se lá fora
teimou
bateu à porta,
em vão.
por não suportar o perfume das flores azuis do fim de tarde
vestiu-se de tristeza
e foi embora
dormir sozinha.
cacos
e corpos,
reteve-se lá fora
teimou
bateu à porta,
em vão.
por não suportar o perfume das flores azuis do fim de tarde
vestiu-se de tristeza
e foi embora
dormir sozinha.
flor do meu dia
a flor do meu dia disse que era feita de tempo
brincou com os meus medos
redesenhou meus sonhos
pediu que eu deixasse tudo escuro
e lhe esperasse apenas com uma gota de água.
quebrei todos os espelhos
e, agora, só me vejo no seu hoje.
ela não quer mais ir embora.
nem precisa.
brincou com os meus medos
redesenhou meus sonhos
pediu que eu deixasse tudo escuro
e lhe esperasse apenas com uma gota de água.
quebrei todos os espelhos
e, agora, só me vejo no seu hoje.
ela não quer mais ir embora.
nem precisa.
gentes
há gente que arranha
arranha e pisa
arranha e pisa
e arranha e arranha e pisa
e acha que isso é normal.
depois, quando sente a pele alheia já grossa,
machuca-se facilmente
machuca-se facilmente
por não sentir macio o afago.
eu quero continuar apaixonado pelas estrelas
gostando da lua
e encantado com a ondas que não me prometem nada:
vão e vêm, simplesmente.
gostando da lua
e encantado com a ondas que não me prometem nada:
vão e vêm, simplesmente.
doe menos.
perdidas
algumas palavras ficam perdidas
sem tempo
espaço
lembrança
definição
outras nunca foram ditas
e ficam retidas
na boca
na alma
na folha de papel
ainda ser cor
tantas mais passam desapercebidas
esquecidas
nas tintas
nas vigas
na contramão
inúmeras são aquelas que não serão nunca pensadas
e, talvez, sejam mais felizes
do que aquelas faladas em vão
aos vãos.
sem tempo
espaço
lembrança
definição
outras nunca foram ditas
e ficam retidas
na boca
na alma
na folha de papel
ainda ser cor
tantas mais passam desapercebidas
esquecidas
nas tintas
nas vigas
na contramão
inúmeras são aquelas que não serão nunca pensadas
e, talvez, sejam mais felizes
do que aquelas faladas em vão
aos vãos.
quase nada tudo
por você eu faço tudo
ou quase tudo
ou quase nada
piso fundo
fico na parada
largo o escudo
mas não me jogo no lago
não vou até o fundo
nem dou meia volta no mundo
mas tudo isso não precisa ser tão profundo
e se for pra ser assim
faço quase nada ou quase tudo.
ou quase tudo
ou quase nada
piso fundo
fico na parada
largo o escudo
mas não me jogo no lago
não vou até o fundo
nem dou meia volta no mundo
mas tudo isso não precisa ser tão profundo
e se for pra ser assim
faço quase nada ou quase tudo.
nós
era para ser só assim:
sem nós
fios
linhas
e parapeitos.
sem nós
fios
linhas
e parapeitos.
era para ser só:
sem ser dó no peito
sem escuridão no leito
sem palavra "sem jeito"
sem trovão
nem folhas ao vento
diante de um furacão já aceso.
sem ser dó no peito
sem escuridão no leito
sem palavra "sem jeito"
sem trovão
nem folhas ao vento
diante de um furacão já aceso.
era para ser sem fim:
sem rimas
ricas ou pobres
sem lápis sem ponta
sem rimas
ricas ou pobres
sem lápis sem ponta
sem apontador
sem cor de despedida
sem rosto lavado às pressas
sem lavanda
sem larvas
sem amarras
nem asas cortadas.
sem cor de despedida
sem rosto lavado às pressas
sem lavanda
sem larvas
sem amarras
nem asas cortadas.
era para ser frio
sem acostamento
sem costas distantes
sem medo de roda
gigantes olhares
perdidos na imensidão.
sem acostamento
sem costas distantes
sem medo de roda
gigantes olhares
perdidos na imensidão.
era para ser sem nada
sem tudo
sem pouco
sem muito
sem ninguém
que não quisesse
ao menos ver
o que há do outro lado do atlântico.
sem tudo
sem pouco
sem muito
sem ninguém
que não quisesse
ao menos ver
o que há do outro lado do atlântico.
era para ser da forma que fosse
mas que não se revelasse
que se deixasse ser
e ficar
e permanecer
e ser
enquanto possível fosse
mesmo que mudo
mesmo que verbo sujo
mesmo que duro
mesmo que existisse no muro
palavra "sem jeito" de gente
mas que não se revelasse
que se deixasse ser
e ficar
e permanecer
e ser
enquanto possível fosse
mesmo que mudo
mesmo que verbo sujo
mesmo que duro
mesmo que existisse no muro
palavra "sem jeito" de gente
porque há quem aguente o que quer que seja
e há, também, quem seja gente
ainda que enfrente o que não precisasse existir.
e há, também, quem seja gente
ainda que enfrente o que não precisasse existir.
seja meu
nem sol
nem mar
nem lua
nem eu
nem ninguém
nem mar
nem lua
nem eu
nem ninguém
nem quintais
nem voos
nem sou
nem tem
nem voos
nem sou
nem tem
nem tarde
nem janeiro
nem orlas
nem rabiscos
nem véu
nem janeiro
nem orlas
nem rabiscos
nem véu
nem chão
nem vinis
nem paciência
nem oceano
nem drão
nem algo
que seja
meu.
nem vinis
nem paciência
nem oceano
nem drão
nem algo
que seja
meu.
entreaberta
saiu às pressas.
deixou metade da porta aberta.
a outra, levou consigo.
deixou metade da porta aberta.
a outra, levou consigo.
não gritou
não ouviu-se gemido
não lhe bateu insegurança
não esperou por esperança
não aguou planta
não jogou toalha branca
não fez cópias de chaves.
não ouviu-se gemido
não lhe bateu insegurança
não esperou por esperança
não aguou planta
não jogou toalha branca
não fez cópias de chaves.
era, pois, já tarde
e a bela, sem tarde ou noite
ou manhã que fosse,
deixou-se estar largada,
como lagarta que queria ser,
e outra vez criar asas
soltar-se presa aos ventos que cantam,
da melhor forma, o que não pode ser cantado
nem plantado em tela que deseja ser coberta
de tintas macias
enquanto outro dia demora a surgir.
e a bela, sem tarde ou noite
ou manhã que fosse,
deixou-se estar largada,
como lagarta que queria ser,
e outra vez criar asas
soltar-se presa aos ventos que cantam,
da melhor forma, o que não pode ser cantado
nem plantado em tela que deseja ser coberta
de tintas macias
enquanto outro dia demora a surgir.
canção não podia ouvir:
lágrimas todas passeavam pelos seus sentidos.
lágrimas todas passeavam pelos seus sentidos.
oração não podia sentir:
era pecadora em excesso
para acreditar que novas paredes imaculadas
pudessem ser seu novo lar.
era pecadora em excesso
para acreditar que novas paredes imaculadas
pudessem ser seu novo lar.
abandonou-se
fechou os olhos
e não quis mais abri-los.
fechou os olhos
e não quis mais abri-los.
ademais,
era excessivamente ela para continuar aqui.
era excessivamente ela para continuar aqui.
por uma tarde bela
perdeu-se.
achou, na busca de outra coisa que não era amor,
o sentimento que guardava preso
e nem percebia tê-lo
como tão custoso tesouro.
achou, na busca de outra coisa que não era amor,
o sentimento que guardava preso
e nem percebia tê-lo
como tão custoso tesouro.
pecou?
e quem é pecador pode julgá-la?
cega, talvez não tenha sentido
quão difícil é existir calada.
quão difícil é existir calada.
sonhou?
penso que não: jogou-se.
penso que não: jogou-se.
assim como bovary
não quis canção lenta.
e, nem tão bela assim,
andou pelas tardes de outono em paris
do outro lado de lá
não quis canção lenta.
e, nem tão bela assim,
andou pelas tardes de outono em paris
do outro lado de lá
quando poderia ser no chile
em parati,
na bahia ou em boa viagem
ou até mesmo em bogotá.
em parati,
na bahia ou em boa viagem
ou até mesmo em bogotá.
lançou-se aos mares enquanto era tempo
e nos braços estranhos se encontrou.
e nos braços estranhos se encontrou.
agora
pétalas molham os vidros de sua janela.
e a chuva lhe dá ciência do que é viver.
pétalas molham os vidros de sua janela.
e a chuva lhe dá ciência do que é viver.
a cor das horas
leve-me por aí.
deixe-me brando
solto
perdido
morto
leve.
mas me leve.
deixe-me brando
solto
perdido
morto
leve.
mas me leve.
seja da maneira que puder:
sem forma
sem flor
sem receita
sem abraços
sem palavra
sem notícia
sem bússola
sem nada para ser lembrado
ou esquecido.
sem forma
sem flor
sem receita
sem abraços
sem palavra
sem notícia
sem bússola
sem nada para ser lembrado
ou esquecido.
onde há dias que eu me perco
espero que não chegue a noite
e mais ainda que não chegue outro dia
espero que não chegue a noite
e mais ainda que não chegue outro dia
porque é doloroso
ver chegar a tarde
e sair à tarde
e ser tão tarde
ver chegar a tarde
e sair à tarde
e ser tão tarde
para contar as horas
que as cores
e as coisas
não me deixam ter.
nem ser.
que as cores
e as coisas
não me deixam ter.
nem ser.
lá fora
ontem, às dezessete e trinta,
flores se despediram do sol
ao som dos ventos tristinhos.
pinta-se parede
move-se móvel
renova-se louça
e flores de plástico
e plásticos
e passa-se roupa
e pendura-se quadro
que, de longe, nada
ou quase nada
diz
do que se passa
aqui.
é preciso água agora
pois, lá fora,
na varanda estreita
plantas
gritam por vida.
flores se despediram do sol
ao som dos ventos tristinhos.
era gosto de mar
a saudade que brotava entre as páginas
já amareladas dos livros que não li
das letras desconexas
que há alguns meses esqueci de ouvir.
a saudade que brotava entre as páginas
já amareladas dos livros que não li
das letras desconexas
que há alguns meses esqueci de ouvir.
o tempo que era só meu
perdeu-se nos vãos
nas mãos vazias que esperavam brilhantes
nos olhos úmidos, de antigos amantes,
no tapete empoeirado
que enfeita a sala solitária
da casa que quer ser lar.
perdeu-se nos vãos
nas mãos vazias que esperavam brilhantes
nos olhos úmidos, de antigos amantes,
no tapete empoeirado
que enfeita a sala solitária
da casa que quer ser lar.
pinta-se parede
move-se móvel
renova-se louça
e flores de plástico
e plásticos
e passa-se roupa
e pendura-se quadro
que, de longe, nada
ou quase nada
diz
do que se passa
aqui.
é preciso água agora
pois, lá fora,
na varanda estreita
plantas
gritam por vida.
dois barcos e meio
perdido entre os braços
dos mares que não me querem mais
solto
absorto
e meio revolto
quando as ondas me trazem de volta à praia
catamarãs que dançam ao sol do meio-dia
encenam a minha solidão
encantam feito andor na procissão
o ardor do meu peito só não é maior
do que a dor da estrela morta
que, ainda assim, se afoga lá
onde nem onda mais há.
dos mares que não me querem mais
solto
absorto
e meio revolto
quando as ondas me trazem de volta à praia
catamarãs que dançam ao sol do meio-dia
encenam a minha solidão
encantam feito andor na procissão
o ardor do meu peito só não é maior
do que a dor da estrela morta
que, ainda assim, se afoga lá
onde nem onda mais há.
o que vejo
um beijo seu quero só
sem um mínimo de piedade
se você mente ao me querer
acredito ser real
o que assisto nos seus olhos
a mentira é toda sua
o que vejo é só meu.
fragilmente
fragmentos mentem
não recontam o que foi todo
inteiro
remetem ao remoto desejo
incerto
impreciso
incompreensível
são obscuros os letreiros
que não se tocam
são frias as palavras
quando não tocam nada
fragmentos são lentos
estão dentro de algo pronto
não atacam com a mesma força
que a forca quando tem peso
e o peso da forca
quando vem
de baixo ou de cima
corta
e ainda que haja lâmina cega
a força vê o medo por inteiro
e desfaz o insensível beijo por completo
fragmentos mentem
e expõem apenas aquilo que têm vontade
sem muita sinceridade.
primeiro pingo
outro dia
enquanto dormia o outono
sem notícia da prima vera
acendeu-se uma vela
à espera da noite
que só chegaria
com a bondade dos que verão
o sertão rimar com flor
mesmo que para isso seja preciso
deslembrar da precisão necessária
que é cada gota de luz acesa
cada pingo de água descoberto.
talvez mundo
talvez seja cedo
e eu
por mim
esqueça de tudo
talvez eu me afogue
na borda do seu lago
largue os dedos seguros
que afagam meu pensamento
e fique sem mundo
talvez eu me mude
sem aviso prévio
querendo e não pensando em voltar
prevendo seu olhar mudo
talvez eu passe longe
fundo
no traço do seu passo sujo
imaculado
lado a lado
como seu grito quase silêncio
como seu raso quase profundo
domingo, 7 de junho de 2015
é terno
o tempo passarinho
cantou bem baixinho
antes do dia ser sol
saí para ver
mas me perdi
no caminhar
deveria lembra?
poderia esquecer?
passarão outros invernos
pássaros passarão
plenos os passos se perdem
no que deixou de ser eterno.
é terno
deixar de ser.
cantou bem baixinho
antes do dia ser sol
saí para ver
mas me perdi
no caminhar
deveria lembra?
poderia esquecer?
passarão outros invernos
pássaros passarão
plenos os passos se perdem
no que deixou de ser eterno.
é terno
deixar de ser.
sem
dos castelos sem cartas
dos fotografias sem datas
das lembranças sem marcas
dos limites sem estacas
dos fios sem potência
das formas sem violência
das horas sem clemência
dos erros sem dormência
dos gritos sem cadência
das tintas sem saliência
das rugas sem consciência
dos verbos sem desinência
dos pulos sem ardor
dos sorrisos sem alvor
das preces sem andor
das canções sem compositor
dos riscos sem confessor
dos riscos sem apagador
dos riscos sem abraçador
dos riscos sem abrasador
aguaçal de silêncio
estamos ao sol.
dois girassóis.
sós.
dos fotografias sem datas
das lembranças sem marcas
dos limites sem estacas
dos fios sem potência
das formas sem violência
das horas sem clemência
dos erros sem dormência
dos gritos sem cadência
das tintas sem saliência
das rugas sem consciência
dos verbos sem desinência
dos pulos sem ardor
dos sorrisos sem alvor
das preces sem andor
das canções sem compositor
dos riscos sem confessor
dos riscos sem apagador
dos riscos sem abraçador
dos riscos sem abrasador
aguaçal de silêncio
estamos ao sol.
dois girassóis.
sós.
pudera
fiz o que fiz e o que não fiz
pudera
era para ser assim
sem instâncias
reflexos
e reflexões.
quis o que fiz e o que não fizera
quisera
no tempo que seria todo da espera
fingir
e me permitir fugir
vi o que fiz e o que não quis
serras?
jardins?
querubins?
joaquins?
que santos sãos
estão
a nos esperar?
pudera
era para ser assim
sem instâncias
reflexos
e reflexões.
quis o que fiz e o que não fizera
quisera
no tempo que seria todo da espera
fingir
e me permitir fugir
vi o que fiz e o que não quis
serras?
jardins?
querubins?
joaquins?
que santos sãos
estão
a nos esperar?
sábado, 6 de junho de 2015
decerto
disseram que ela não tinha amor
debalde bateram na sua janela
na certa ela não regava flor
teria que cor, então, aquela dor, no vestido dela?
debalde
saiu para ver a rua
lua
chama de vela
sem tempo
para ser só sua
crua.
desejam vê-la?
debalde bateram na sua janela
na certa ela não regava flor
teria que cor, então, aquela dor, no vestido dela?
debalde
saiu para ver a rua
lua
chama de vela
sem tempo
para ser só sua
crua.
desejam vê-la?
entalho
com o rosto coberto
cubro além das palavras
os muros que me interessam pular.
saltar
é a proposta
sem asa
delta
até não poder
mais voar.
cubro além das palavras
os muros que me interessam pular.
saltar
é a proposta
sem asa
delta
até não poder
mais voar.
inteiro
todo
completo
reitero: sem dano.
será?
na íntegra
quem não se desintegra
está mais à procura do invisível
do que quem enxerga
com os olhos
que
às vezes
nada
vê.
completo
reitero: sem dano.
será?
na íntegra
quem não se desintegra
está mais à procura do invisível
do que quem enxerga
com os olhos
que
às vezes
nada
vê.
inquieto
silêncio
faça silêncio
faça mais silêncio
faça um pouco mais de silêncio
para poder ouvir
o silêncio
que há aqui.
faça silêncio
faça mais silêncio
faça um pouco mais de silêncio
para poder ouvir
o silêncio
que há aqui.
dias assim que não são meus
os ponteiros
tontos
em meio aos afazeres de todo dia
informam que já se aproxima a noite.
gritam por seus espaços
no lapso entre o ontem e o agora.
não há mais tempo para ter
o sorriso de outrora.
só posso deixar que corram
sem caminhos ou jardins
os minutos que estão por vir
porque o meu hoje
passa cada vez mais rápido
por mim
sem deixar rastros.
tontos
em meio aos afazeres de todo dia
informam que já se aproxima a noite.
gritam por seus espaços
no lapso entre o ontem e o agora.
não há mais tempo para ter
o sorriso de outrora.
só posso deixar que corram
sem caminhos ou jardins
os minutos que estão por vir
porque o meu hoje
passa cada vez mais rápido
por mim
sem deixar rastros.
domingo, 31 de maio de 2015
do outro lado
os passos meus
passam
no paço
morada que é sua
mas só do lado de fora
porque dentro
nada é meu
nem seu
e é nesse espaço
que minha cabana faço
esperando seu aço
brincar com o meu breu
quando for meu peito
inteiro o que eu tiver para lhe dar
e se for de interesse seu
eu me desfaço
rasgo-me
em tantos quantos forem os pedaços
e os deixo
todos
do outro lado
ainda que não seja seu.
luzes tuas
luzes tuas
que são duas
quase nuas
no meio da rua
uma e uma
e eu quase no meio.
luzes tuas
que se insinuam
rebrilham
sambam
e mesmo cruas sobrepujam
a canção que nina a lua.
que são duas
quase nuas
no meio da rua
uma e uma
e eu quase no meio.
luzes tuas
que se insinuam
rebrilham
sambam
e mesmo cruas sobrepujam
a canção que nina a lua.
somente
só
mente
sol.
minto, sol.
mente, mente.
mente só.
somente
mente
in
só
lene
mente
minto
só
quando é
verdade.
mente
sol.
minto, sol.
mente, mente.
mente só.
somente
mente
in
só
lene
mente
minto
só
quando é
verdade.
vício
vi, sim
estava lá
não peguei
guardei tudo que pude
nas retinas.
sim, vi
deixei que se fosse
trouxe comigo apenas o que pude.
não há espaço mais em mim
para habitar o que escapa de ti
ainda assim
estou vazio de si
porque sempre falta um dó
para acompanhar o meu mi.
estava lá
não peguei
guardei tudo que pude
nas retinas.
sim, vi
deixei que se fosse
trouxe comigo apenas o que pude.
não há espaço mais em mim
para habitar o que escapa de ti
ainda assim
estou vazio de si
porque sempre falta um dó
para acompanhar o meu mi.
daqui
é essa voz que me procura
que se esconde
e não me acolhe
que anda por onde eu não posso ir.
é essa voz que eu achei
que fosse irmã do meu silêncio
que esquenta o pingo de paz
e teima em querer existir.
é essa
a voz
que vai e volta
que foge e torna
e toma
o meu elixir
e que não some
daqui.
que se esconde
e não me acolhe
que anda por onde eu não posso ir.
é essa voz que eu achei
que fosse irmã do meu silêncio
que esquenta o pingo de paz
e teima em querer existir.
é essa
a voz
que vai e volta
que foge e torna
e toma
o meu elixir
e que não some
daqui.
páginas
e as letras
já cansadas
debatem-se
entre si
procurando
o outro
lado.
a moça
sozinha na calçada
cantarola
desejando
ser pássara.
as páginas
quando em branco
sentem-se nuas
como duas luas
sentem-se suas
no céu que está por vi.
já cansadas
debatem-se
entre si
procurando
o outro
lado.
a moça
sozinha na calçada
cantarola
desejando
ser pássara.
as páginas
quando em branco
sentem-se nuas
como duas luas
sentem-se suas
no céu que está por vi.
sereia teu
palhas de coqueiros nas ilhas das flores.
a senhora da dança
encanta com seus pares
e dança
como se não
houvesse mais outro ontem.
dos galhos secos
fiz sombras
que guardam meus pensamentos
dos pingos de esquecimento.
sereia teu
quando não houver
mais ondas
nos teus lamentos.
a senhora da dança
encanta com seus pares
e dança
como se não
houvesse mais outro ontem.
dos galhos secos
fiz sombras
que guardam meus pensamentos
dos pingos de esquecimento.
sereia teu
quando não houver
mais ondas
nos teus lamentos.
mares meus
dos mares pelos quais já naveguei
perdi-me em todos
afoguei-me em alguns
recordo-me de outros
sinto falta de vários.
doce seu encanto
sal no meu canto
canções de outono
no entorno de mim.
perdi-me em todos
afoguei-me em alguns
recordo-me de outros
sinto falta de vários.
doce seu encanto
sal no meu canto
canções de outono
no entorno de mim.
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