quarta-feira, 24 de junho de 2015

nós

era para ser só assim:
sem nós
fios
linhas
e parapeitos.
era para ser só:
sem ser dó no peito
sem escuridão no leito
sem palavra "sem jeito"
sem trovão
nem folhas ao vento
diante de um furacão já aceso.
era para ser sem fim:
sem rimas
ricas ou pobres
sem lápis sem ponta
sem apontador
sem cor de despedida
sem rosto lavado às pressas
sem lavanda
sem larvas
sem amarras
nem asas cortadas.
era para ser frio
sem acostamento
sem costas distantes
sem medo de roda
gigantes olhares
perdidos na imensidão.
era para ser sem nada
sem tudo
sem pouco
sem muito
sem ninguém
que não quisesse
ao menos ver
o que há do outro lado do atlântico.
era para ser da forma que fosse
mas que não se revelasse
que se deixasse ser
e ficar
e permanecer
e ser
enquanto possível fosse
mesmo que mudo
mesmo que verbo sujo
mesmo que duro
mesmo que existisse no muro
palavra "sem jeito" de gente
porque há quem aguente o que quer que seja
e há, também, quem seja gente
ainda que enfrente o que não precisasse existir.

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