sábado, 22 de abril de 2017

abraços partidos

todo o desejo
era de que tudo fosse para sempre
e o 'sempre' durou a eternidade que tinha que durar.
o meses vieram
e com eles as estações:
suas lágrimas
e seus sorrisos.

e a surpresa é que o tempo corrói
tecidos, peles e canções
e distancia abraços,
paixões e presenças:
é o preço que se paga por viver
tudo em dois.

os gozos
- tão rápidos e silenciosos -
diziam que tudo morreria ali
naquele instante que nunca terminaria.

o fato é que amores vêm
e como as tardes de outono
- belas, frias, tristes e poéticas -
se vão.

pessoas
cidades
sabores
e amizades também
chegam subitamente
- como os primeiros pingos da águas de maio -
e partem
com a rapidez dos sinais de um cometa
deixando as esquinas com a sua mais natural cor.

e a vida prossegue
- no seu tempo e do seu jeito -
mostrando que é impossível
e, às vezes, desnecessário
tentar compreender
todos os seus mistérios.

do que eu quero (ou lembrança esquecida)

só sei que quero.

de que lado vem?
não sei.
que tom tem?
desconheço.
que som representa?
ficou por aí.
por onde irá me levar?
não importa.
e quero
porque sei que quero
e não espero
porque sei que nem tenho tanto tempo
nem tempo há
para que seja feito
o que não depende de mim.
mas é dia que cai
em horas sem segundos
porque muda o mundo
a cada respiro
e meu grito se perde mudo
no desejo de ser quase nada.
e mesmo no silêncio escuto
porque a voz morta não se cala
ainda que tudo seja escuro.
doce tempo andou por entre os dedos.
o desejo, agora, pingos de alguma coisa,
vive do que dá
porque mais do que isso não pode ser.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

raio vital

entre tantas portas fechadas
um gosto de sol
penetra no corpo que é só meu:

é o mínimo de luz
que me dá vida
que me leva à vida
e que ilumina todo o céu
suspenso por sobre os meus ombros

quando uma nuvem densa
- carregada de chuva -
escurece tudo aquilo que meus olhos tocam.