terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

o rio e seu par

ontem eu vi o rio e seu par
desviei
passei por todos os muros
devagar
querendo não me molhar:

senti medo de manchar
com minha dor
águas tão limpas.

publico-me

publico-me
sem corretivos
rabiscos
ou linhas em branco.

passar a vista a limpo não está nos meus planos
os planos não estão nas pontas dos dedos
assim, os dedos todos se perdem
quando me dispo das palavras que falam
mesmo estando, todas elas, em pleno silêncio

à procura da regência
à procura da concordância
à procura do pronome que fale de mim
sem estar na primeira pessoa.

elemento surpresa

quando o tempo destrói toda a beleza
mel puro torna-se produto azedo

horas
dias
meses
e semanas
passam a ter a mesma importância

e a alegria da chegada repentina
perde o tom
de ser o elemento surpresa.

tudo muito

esta é a questão:

é tudo muito bom,
mas é só isso.

e só isso
não basta.

a flor do meu dia

a flor do meu dia disse que era feita de tempo
brincou com os meus medos
redesenhou os meus sonhos
pediu que eu deixasse tudo escuro
e lhe esperasse com uma gota d`água.

quebrei todos os espelhos
e, agora, só me vejo no seu hoje.

ela não quer mais ir embora



nem precisa.


poema-pessoa

azul é seu nome, poema pessoa.
azul claro
rasgando minha pele escura
e tudo mais que é meu
e tem a sua cor

voando
leve e segura
como borboleta
em meio à tempestade
mas que, ainda assim, procura por abrigo
em mim

entra
e pousa.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

quando calo

quando calo
falo
paro
e em momento raro
até mato

como o silêncio
de um olhar
que se perde
admirando estrelas.

palavra martelo

a mente esquece o ardor
o coração perdoa a dor
mas o tempo arquivo todo o odor

de cada palavra martelo.

samba poético

graças aos deuses do som
existe o samba:
é quando há possibilidade
de fazer de uma lágrima
gotas de poesia.

de mim

não choro mais por tudo aquilo que chegou ao fim
porque suas letras e seus olhares
não têm mais
a capacidade de fazer
com que eu me perca de mim.