quinta-feira, 10 de maio de 2018

mistérios da nossa poesia

aparentemente
laços se abraçam
e desenham
na ponta de um iceberg
o calor de um sol de janeiro
mesmo quando ainda havia dúvida
quanto à chegada precisa
de qualquer estação.

displicentemente
folhas caem sobre um corpo
na procissão sem passos
e carimbam
[como se fossem xilogravuras
ou talvez gota de orvalho chegando
no fim da manhã]
o desejo na pele morna
que há dias suplica por carinho
e que vive esquecida no tempo.

repentinamente
todas as luzes se apagam
e por entre as curvas se revelam
caminhos e olhares
que outrora eram neutros
não por não serem percebidos
mas porque nunca se fizeram presentes
ou, quem sabe, porque nunca brilharam
na contramão de quem chegava.

assustadoramente
o encanto atende por mil nomes
o desencanto entende a prece de todos os homens
e a água bruta que desce dos céus
dorme resoluta
no balanço das ondas do mar.

poesia
é quando no silêncio das nossas bocas
eu chamo pelo seu nome
e você se reconhece
na cor que habita
nos meus olhos.