segunda-feira, 11 de junho de 2018

colecionador de nada


e
dos meus pés cansados
voaram borboletas

leves
tão leves
que me levaram a caminhos já conhecidos
mas não desejados
porque escuro era sempre o tempo da volta.

e me colecionei.
colei-me às asas suas
de todas as cores
soltas por entre árvores e tijolos
becos, avenidas e esquinas
cacimbas e fontes.

era como qualquer coisa
que dissesse que sim
ou que não.
que me chamasse
e não olhasse mais para trás.
que ficasse calada
e não mostrasse para o que veio.

e veio.
e de feio
fez-se belo o beijo
entre as duas estrelas
que antes do meio-dia sumiram.
e eu, sem asas
sem luz
sem cor
sem nada,
já tinha esquecido
a voz de quem me chamara
do outro lado da rua.
porque tinha ficado sempre ali
parado
entre carros e notas
entre notas e moedas
entre moedas, sombra e escada
à espera de qualquer tom
de qualquer som
de qualquer rota
de qualquer coisa
de nada.