quarta-feira, 24 de junho de 2015

entreaberta

saiu às pressas.
deixou metade da porta aberta.
a outra, levou consigo.
não gritou
não ouviu-se gemido
não lhe bateu insegurança
não esperou por esperança
não aguou planta
não jogou toalha branca
não fez cópias de chaves.
era, pois, já tarde
e a bela, sem tarde ou noite
ou manhã que fosse,
deixou-se estar largada,
como lagarta que queria ser,
e outra vez criar asas
soltar-se presa aos ventos que cantam,
da melhor forma, o que não pode ser cantado
nem plantado em tela que deseja ser coberta
de tintas macias
enquanto outro dia demora a surgir.
canção não podia ouvir:
lágrimas todas passeavam pelos seus sentidos.
oração não podia sentir:
era pecadora em excesso
para acreditar que novas paredes imaculadas
pudessem ser seu novo lar.
abandonou-se
fechou os olhos
e não quis mais abri-los.
ademais,
era excessivamente ela para continuar aqui.

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