segunda-feira, 19 de outubro de 2015

um café de amanhã

é de laço de fita vermelha
o enfeite com que te enfeitas
desde o sofá até o corredor
desde a toalha da mesa da varanda até a estação do metrô

desde o fio que a navalha não corta até o braço de arpoador
desde o lenço bordado de amor
desde o leito de visitas até o fundo do poço

é com gosto de chá requentado de ontem
que beijo o seu lábio de cima e o inferior
desde os pelos dos pés que são de outra cor até o cóccix
desde o cio que vem antes do motor

desde o que vivencio e todo seu esplendor
desde a velha vitrola até seu som de outra cor
desde o litro de água que bebo, fingindo licor

e de manhã antes de nascer um sol
sei de tudo porque vivo onde estou
não jogo no lixo o que me arde, a minha fé

nem mesmo enlouqueço esperando o seu voo
mas não me agrada pensar um café de amanhã
se nosso tempo nessa foto já passou.


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