sexta-feira, 12 de agosto de 2016

thousand ninety-five days

seus olhos me viram
quando ainda não era noite
de uma quinta-feira de agosto.

com uma calma que é só minha
- e percebida apenas por você -
dizem que dei mais cor a sua vida

mas misturamos, na verdade, nossas tintas
e, que me perdoem frida e almodóvar,
donos dos tons fortes e exagerados

acho que é na sobreposição de um café com leite
ou de um gelo com carvão quente, quase brasa,
que se encontra a tal felicidade.

alguns outros dias, não tão depois, eu fui seus olhos
em um ínfima distância que separava
sua lente de qualquer poesia

e me expus como quem não espera por outro dia
e me permiti, com a calma que é só minha, revelar todas as senhas
das portas que me guardavam e me protegiam

porque se fosse para ser verdadeiro
precisaria ter qualquer tipo de estranhamento, de drama
uma narrativa em segunda pessoa

estranha, tal qual a sensação de quem ama
leve, na forma de um amor primeiro
forte, como o silêncio de um último suspiro.

e entre escadas, corredores e estradas
taças se tocaram e novos laços se firmaram
dizendo que o importante é querer estar perto

ainda que em pensamentos ou em lembranças,
porque mais do que isso talvez nem seja necessário
ou até mesmo os dias não aguentem

e decidam, por fim, acabar com qualquer forma de afeto
com a novidade que chega ao final de cada jornada, macia ou bruta,
ou com os cheiros que, de tão efêmeros, apenas em nós

faz morada: embaixo de cada palavra estendida
no espaço alegre que habita entre os muros sós
na cena inexistente que inventamos para os nossos curtas

na melodia de certas canções que nos conectam
na tinta que falta para a folha se sentir completa
na flor que espera seu vaso, para enfeitar nossas varandas.

antes de entendermos a força do furacão que já foi vencido
será preciso consultar “na parede da memória”
todos os sabores experimentados, as inúmeras dores passadas

e o valor que vive na escolha por querer ficar.
e, assim, será simples de entender o porquê
de um sorriso que se renova a cada encontro

da paz que a alma se veste a cada novo abraço
do amanhã que nunca chega, pois quer sempre
dizer que o mais importante é o tempo de agora

e de querer, mesmo que não seja para sempre,
- visto que todo ‘sempre’ um dia expira-
ser o que somos e pela vida continuar.

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