segunda-feira, 22 de agosto de 2016

nova alma velha


a minha alma, que nasceu ontem,
já sente o cansaço do tempo de agora
com uma força capaz de derrubar estrelas.

deseja construir pontes
atravessar pontes
pular de pontes
jogar o corpo fora
aguar a pele com um outro perfume
e deixar que novos sonhos floresçam.

mas as folhas flageladas de papel
- de todas as cores e formalidades 
que se estendem e me desconectam
de tudo o que é preciso para dizer 'sim' à vida
daquele momento reservado para formar desenhos com as nuvens - 
precisam de alguma nova assinatura:
com urgência
e com o azul mais bonito de todo o céu,
ainda que, fora de mim,
haja um tempo iluminado de verão
e sem qualquer poesia
às retinas que se perdem entre os faróis dos carros
e a pressa de chegar em casa
constantemente, antes do final do dia.

penso, às vezes,
que é preciso ter a permissão
para contemplar a lua
com todas as suas vestes.
os ponteiros que marcam horas, minutos e segundos
desconhecem essa minha trivial necessidade.

e toda a semana passa tão rapidamente
que chego a me acostumar com a ausência de minutos de felicidade
que o peso de tudo vai ficando suportável
- o que é muito perigoso ao meu jardim.

ou tão lentamente, 
que parece até que nunca mais chegarei ao amanhã que bate à porta
- o que me desespera e me faz, por vezes, procurar por mim:
na sala, no quarto, na varanda, no sorriso solto, 
na conversa sem censura depois de uma taça de vinho.

mas 'viver' talvez seja mesmo isto:
- será? -
estar em linhas tortas
atuando como uma personagem secundária da oitava arte
e deixar que o sentido das coisas importantes  
exija traçar novos planos
ou dormir criança
- sabendo que o tudo e o nada são elementos que fazem parte do que temos -
e acordar com uma alma de mil anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário